O PAMPA ARGENTINO E A CONSTRUÇÃO DO GAÚCHO EM EL GAÚCHO MARTIN FIERRO

Autores

  • Baiarte Franco Abreu
  • Joceli Saraiva PUCRS
  • Rodrigo Donizeti da Silva Uniasselvi
  • Bruno Santos Pinto
  • Jacira Maria Muller Unilasalle
  • Paulo Roberto Marins da Silva

Palavras-chave:

Regionalismo. Pampa argentino. Gauchesca. Martín Fierro.

Resumo

Neste trabalho, pretendemos analisar o poema do escritor argentino José Hernández (1834-1886) intitulado El gaucho Martín Fierro, publicado no final de 1872, observando a relevância desta obra na dignificação da imagem do gaúcho que habitava o pampa argentino. El gaucho Martín Fierro, mais do que um clássico  da literatura argentina, é considerado um  expoente da literatura pampeana por narrar, no decorrer de 395 estrofes recheadas por um vocabulário popular, a vida de um gaúcho e seu sofrimentos, indignações, contestações e esperanças.

Nesse sentido, faremos uma apresentação do contexto histórico argentino no século XIX, período de formação e constituição de suas instituições, caracterizadas pelo desprezo de elementos autóctones e mestiços na composição dos valores de sua nacionalidade.

Em oposição e em denúncia a configurações excludentes da política argentina, sobretudo nos governos do partido unitário, aparece o poema de José Hernández que, embora não discuta a relevância da cultura indígena, reivindica a participação do gaúcho como elemento de argentinidade.

É importante ressaltar que para a análise dessa obra nos embasaremos no olhar crítico de alguns autores sobre esse poema de grande importância para a literatura da América Latina, como Aldyr Garcia Schlee, que em sua obra Simões Lopes Neto e a Literatura dos povos platinos (1989) destaca que a construção do personagem Martín Fierro não foi idealizado sob olhar europeu, mas sim retratava a linguagem literária e focalizava o tema pampiano e o que nele tinha de mais verdadeiro e fiel. 

Recorreremos também ao olhar de Celestino Sachet em A Sátira de Antônio Chimango e Martín Fierro (1989), que nos diz que José Hernández, com o Martín Fierro, através da caricaturização dos ridículos, trabalha com o humor para fazer uma forte crítica social.

A seguir, utilizaremos o trabalho de Pablo Rocca, Acerca de las representaciones de lo rural (2009), pois nesse artigo o autor faz reflexões sobre o gaúcho como sendo a imagem de representação e da construção de uma figura nacional.

Outro referencial trabalhado é a obra Tranculturación narrativa en América Latina (1989), de Ángel Rama, onde o autor enfoca a criação literária latinoamericana de forma original, sem dívidas em relação à tradição europeia.

Em relação ao texto de Carlos Rizzon, Ficciones de un mundo dislocado (s/d), aborda-se também a questão da linguagem criada pelos autores americanos.

E utilizaremos também o trabalho de Walter Rela, El Gaucho en el contexto sócio-político rioplatense  (1989), no qual o mesmo  traz sua visão sobre a presença física do gaúcho nos territórios hispânicos do Rio da Prata.

Em seguida, buscaremos analisar essa obra sob o olhar de Borges em O “Martín Fierro” (2005), que nos conta que a obra de Hernández remete à ficção de uma longa payada autobiográfica, cheia de queixas e de bravatas totalmente alheias à moderação tradicional dos payadores.

Bem como, também trabalharemos com o prólogo da própria obra de José Hernández, El gaúcho Martín Fierro, de uma edição sem data, para buscarmos um bom suporte para o desenvolvimento de nosso trabalho e melhor direcionar nossas ideias.  

Para finalizarmos nossa análise, utilizaremos os pressupostos contidos na obra de Ezequiel Martines Estrada intitulada Muerte y transfiguración de Martín Fierro (2005). Em seu texto o autor afirma que Martín Fierro “es un levantamiento contra la cultura y las letras, contra el hombre urbano, contra la literatura de cenáculo; contra el Salón Literario, sus corifeos y sus obras”  (ESTRADA, 2005, p.38).

O escritor, ao criar Martín Fierro, estava contrapondo-se à cultura dominante, às letras e aos grupos sociais que detinham o poder e que viviam nas cidades. Através do seu herói Martín Fierro, Hernández faz uma denúncia contra o que, em 1872, entendia-se correntinamente[1] por boa literatura. O autor, dessa forma, dá as costas para a civilização que havia se consolidado em falsos alicerces, “afirmava aunque valiera poco, la literatura gauchesca  era lo único  que estaba ligado a la tierra y al hombre que padecía sobre ella” (ESTRADA, 2005, p. 38).

Por intermédio desta obra, Hernández deu voz aos excluídos do pampa. No decorrer de seus treze capítulos, o eu lírico nos conta a história de um gaúcho, sua gente e as injustiças sofridas pelo tipo social que vivia nos pampas e era perseguido pelos regimes autoritários, além de os homens, no processo de militarização do pampa argentino, serem obrigados a servir nas fronteiras. Na maioria das vezes, os gaúchos eram arrancados à força de suas casas, deixando suas famílias desemparadas à própria sorte nos pampas argentinos.

Desta forma é que começam os infortúnios do nosso herói Martín Fierro.  Após servir três anos ao exército na fronteira[2] sem receber nenhum soldo e sofrer inúmeras injustiças por parte de seus comandados. Ao passar por todo tipo de privações e ser perseguido injustamente, no decorrer do tempo, Martín Fierro percebe que a sorte não mudaria a seu favor, o que o força a desertar, transformando-se em um matreiro do sistema social. Aproveita uma oportunidade e foge sorrateiramente da guarnição em que servia. Converte-se, assim, em um índio vago errante, predestinado a perambular pelo pampa com destino incerto.  Dessa forma, esgueira-se para ocultar-se do encalço de seus perseguidores, pernoitando ao relento, em qualquer lugar onde a noite lhe alcançasse. 

 

[1]Relativo à região de Corrientes, Argentina. 

[2]Em El gaucho Martín Fierro, o contexto que define “fronteira”  refere-se ao enfrentamento entre o que denominou “civilização versus barbárie”, ou seja, a ocupação do interior através do extermínio da população indígena.

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Biografia do Autor

Baiarte Franco Abreu

Graduação: Letras Espanhol e Respectivas Literatura.

Joceli Saraiva, PUCRS

Graduação em Gestão De Recursos Humanos. Pós-graduação PUCRS. Gestão de Pessoas: Carreiras, Liderança e coaching.

Rodrigo Donizeti da Silva, Uniasselvi

Processos Gerenciais Uniasselvi.

Bruno Santos Pinto

Graduado em Direito.

Jacira Maria Muller, Unilasalle

Direito: Unilasalle. Pós-graduação em Perícia Criminal Verbo Jurídico.

Paulo Roberto Marins da Silva

Tecnólogo em Gestão Pública. Bacharel em Teologia. MBA em Gestão Pública. Pós-graduação em Segurança Pública e Direito Penal. Especialização em Psicopedagogia Institucional.

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Publicado

2025-08-14

Como Citar

Abreu, B. F., Saraiva, J., Silva, R. D. da, Pinto , B. S., Muller, J. M., & Silva, P. R. M. da. (2025). O PAMPA ARGENTINO E A CONSTRUÇÃO DO GAÚCHO EM EL GAÚCHO MARTIN FIERRO. Revista Ibero-Americana De Humanidades, Ciências E Educação, 13–64. Recuperado de https://periodicorease.pro.br/rease/article/view/20515

Edição

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E-books

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